RSS

O isolamento

Nessa época, nós havíamos alugado uma pequena casinha na praia, para o verão.  Íamos aos fins de semana, a cada 15 dias, enquanto o meu estado se agravava.  Acordava em pânico, passava os dias ou em total tristeza ou com medo... de tudo, na verdade.

Não tinha vontade de nada, não queria falar ou ver ninguém, entrei num túnel, no qual não havia luz no fim.  Aliás, nem fim ele tinha.

Até que tive uma ideia, que na época, me pareceu perfeita: “vou ficar aqui, nessa casinha na praia, isolada, longe de tudo e de todos”.  Como eu sabia, que meu marido não só não aguentaria ficar ali direto, como também, tinha nosso negócio para tocar, disse-lhe que poderia voltar para nossa casa e que eu ficaria lá, numa boa.  Ele viria nos finais de semana. 

No isolamento, achei que tinha encontrado a paz, pois, por algum tempo, minha alma se aquietou.  Não precisava conviver ou mesmo interagir com ninguém e nem saber o que estava acontecendo.  Apenas, fiquei lá, tendo meu cachorro como companheiro, isso me bastava.  Eu estava disposta, a abrir mão de tudo que pudesse me roubar aquela paz, família, filhos, até mesmo meu casamento, o que fosse preciso, para me livrar daqueles sentimentos.

Mas a verdade, era que o fato de eu estar isolada, não fazia com que as coisas parassem de acontecer, que a terra parasse de girar.  Eu não havia vencido o inimigo, apenas me escondi, e mais cedo ou mais tarde, ele iria acabar me encontrando. Além disso, meu marido sentia minha falta, estava sofrendo e não entendia o que acontecia comigo.  Em pouco tempo, tudo voltou, os fantasmas, os demônios, as vozes e agora, se juntava a isso, o medo de tudo piorar ainda mais, medo de enlouquecer.  Era o medo do medo.