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Como surgiu

Afinal, o que é depressão?  Até há alguns anos, eu não sabia, nem sequer suspeitava, que sofria desse mal.

Hoje, sou versada no assunto e consigo identificar todos os sentimentos e sensações que me acompanharam, praticamente, desde a infância e que foram se tornando, cada vez mais presentes, na minha adolescência e fase adulta.

Os motivos ou as causas, na verdade não importam, num momento posterior, irão entender por que, não é disso que trataremos aqui, até porque, eu própria posso apenas especular e supor, seria leviano, de minha parte, fazer qualquer afirmação.  Atendo-se aos fatos, tenho, apenas, duas certezas: 1) Nunca passei por nenhum grande trauma, seja ele físico ou psicológico, que justificasse o que sentia e 2) A depressão, no meu caso, é uma herança de família.  E, mais uma vez, devido à minha total ignorância no assunto, não enxerguei em minha avó e mãe, o peso extra que elas carregaram em suas vidas e junte-se a isso, o fato de meu avô materno ter se suicidado.  Ou seja, como já dizia o antigo ditado: “quem sai aos seus não degenera”, genética conta, e muito!

Só depois de todo o estudo e pesquisa que fiz, nos últimos anos, foi que consegui identificar e explicar cada sentimento, cada emoção, cada fraqueza, sempre presentes, durante todo o desenrolar da minha vida.

Timidez, poucas palavras, desconforto com estranhos, episódios de tristeza.  Incontáveis vezes, que olhava para, literalmente, qualquer pessoa e desejava ter a vida dela.  Qualquer vida parecia-me mais atraente do que a minha, qualquer lugar, era melhor para se viver, do que o meu.   Sentia-me deslocada no mundo e, algumas vezes, invisível.
A felicidade poderia ter sido feita para muitas pessoas, mas eu tinha certeza, de que não era uma delas. 

Existe uma grande diferença entre viver e passar pela vida.  Eu passava pela vida, fazendo escolhas, boas e más, com momentos de alegria, de tristeza, de raiva, de euforia, como qualquer pessoa, não fosse aquela voz que tagarelava o dia inteiro e me dominava a seu bel-prazer, sem que eu me desse conta.

Quando eu ia imaginar, que havia algo errado comigo?  Que eu tinha uma doença, reconhecida pela medicina e que hoje, não só afeta mais de 350 milhões de pessoas no mundo, como também é a mais incapacitante?  Naquela época, ou mesmo há bem pouco tempo, esse mal não era tão popular como é hoje, ainda não afetava um número tão grande de pessoas.

E assim, vivia minha vida, aos passos ou aos tropeções, andando com firmeza ou cambaleando, rindo ou chorando, só sei que fui, até o dia em que tudo parou de fazer sentido e meu mundo desmoronou por completo.