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O surto

Hoje posso dizer, sem sombra de dúvida, que o surto, foi a melhor coisa que já me aconteceu, mas foram necessários vários anos, até eu chegar à essa conclusão.

Eu já estava, há muito tempo, vivendo no limite, mas não sabia disso, estava doente, mas não sabia disso, era uma pessoa horrível, mas não sabia disso. 

Fui abençoada com muitas coisas, um marido amoroso, cuja prioridade era me fazer feliz, trabalhávamos em casa, no nosso próprio negócio, duas filhas lindas, saúde, tudo o que realmente importa, mas para mim, isso tinha pouco ou nenhum valor.

E, à medida que o tempo passava, a coisa ia se agravando.  Comecei a me afastar das pessoas, não tinha o menor problema, em dizer para quem quer que fosse, que não gostava de gente, e, cada vez mais, preferindo ficar em casa, ficava dias sem sair.  Tornei-me uma pessoa, totalmente antissocial.

 Minha autoestima não existia, estava gorda, comia por compulsão e depois me sentia culpada.  Logo eu, que sempre fui tão magrinha, que sempre pratiquei esportes, me sentia feia, um lixo.
Sentia coisas horríveis.  Achava que ia sufocar, puxava o ar e parecia que ele não chegava até os pulmões, o coração acelerava, algumas vezes, acompanhado de uma sensação de enjoo.  Uma ira constante, como se eu estivesse querendo revidar por, seja lá que o fosse, que estava acontecendo comigo.  Tudo e todos me irritavam. 

Mas, até então, para mim, estava tudo normal, eu era assim e pronto, nasci assim e ia morrer assim.  Hoje, tenho até pena, do que as pessoas que me são próximas passaram.  Eu havia me tornado uma pessoa insuportável.

Mesmo diante de todos esses sintomas, eu continuava ignorando o que acontecia comigo, ou pior, sequer sabia que alguma coisa estava errada, até uma tarde...

A angústia e uma enorme tristeza, nesse ponto, já eram minhas companheiras constantes, dormiam comigo, acordavam comigo, até o momento em que o mundo, como eu o conhecia, finalmente desabou e eu entrei em pânico.  Comecei a chorar compulsivamente, queria parar, mas não conseguia, estava totalmente descontrolada e me sentindo a última das pessoas. 

Tenho, entretanto, a boa sorte que muitos que passam pelo que eu passei não têm, um marido amoroso e que me apoia em todos os momentos, em tudo que eu faço, mesmo que não tenha muito sentido para ele.  Só, que nesse dia, ele, uma pessoa sempre muito calma e intrinsecamente feliz, realmente se assustou, não sabia o que fazer, como lidar com aquilo.

No auge do desespero, ele resolveu ligar para uma médica, endocrinologista, com quem eu me tratava, na tentativa de emagrecer, para pedir uma orientação, um socorro, já que eu e ela conversávamos muito e ela já me conhecia, razoavelmente bem.  Ela, então, sugeriu que procurassemos um psiquiatra.  Minha primeira reação foi: O que??  Como??  Eu não sou maluca! 
Até então, eu achava que psiquiatras eram médicos para loucos.  Mas ela havia, nesse dia, alertado a meu marido de que eu provavelmente estaria sofrendo de depressão e/ou ansiedade.

Resisti à ideia e não fui.  Fala sério!  Eu não precisava disso.