RSS

Buscando ajuda

Diante do quadro de fragilidade e impotência que me encontrava, concordei, ou melhor, quis, buscar ajuda, pois a tristeza passou a ser minha companheira 24 horas por dia e as lágrimas desciam sem nenhum esforço, sem motivo aparente, apenas pela minha simples condição de vida.  Viver, passou a ser um fardo, demasiadamente pesado, a dor, era grande demais. 

Fui diagnosticada com depressão e ansiedade.  Comecei a ser tratada com medicamentos e, paralelamente, encaminhada para terapia. 

Quer dizer, que o que eu tinha era uma doença?  Com tudo o que tem direito, diagnóstico, remédios, acompanhamento médico?  Uma doença cara, diga-se de passagem, consulta, medicação, terapia... nós nem tínhamos condições de gastar tanto, mas isso não importava, custasse o que custasse, eu tinha que me livrar daquilo. 

Junte-se a isso, os efeitos que um mal psíquico causa no nosso corpo, dores de cabeça fortíssimas, problemas intestinais, baixa resistência, reações alérgicas, enjoos, tonturas e, o pior, insônia.  Ora acordava no meio da noite e não conseguia mais dormir, ora nem sequer dormia.

Mas agora, tudo iria melhorar, eu estava medicada, certo?  Errado!  A partir do início do meu tratamento, só fiz piorar.  Aquela sensação horrível, estranha, difícil até de descrever, só aumentava.  As lágrimas, que eu achei que iriam secar, dobraram.  Meu marido não entendia, me acusava de não estar reagindo, de não querer ser normal, de não querer aproveitar a vida.  Ele não entendia, eu apenas não conseguia...

O medo do medo me apavorava, acordava já em pânico, com o coração disparado.  Como será que vai acabar tudo isso?  Eu me perguntava.  Vou enlouquecer de vez, perder o sentido das coisas, vou morrer?

A terapia, tal uma pá, cavava fundo no meu passado.  Realmente, descobri muita coisa a meu respeito, mas hoje, com uma mente, digamos, sã, posso afirmar que em nada me ajudou.  O passado não é a resposta.  Mas isso é assunto para depois.

Os meses foram passando, a dose da medicação foi, gradualmente aumentando, até o dia, em que a dor na alma começou a atenuar.  Aprendi que a medicação ajuda, e muito, mas demora a fazer efeito.  Fui melhorando mais e mais, passei a dormir, até demais, cerca de 12 horas por noite, eu que sempre adorei acordar cedo, me sentia estranha e até certo ponto, culpada, por dormir tanto.

Comecei a pesquisar sobre depressão e ansiedade, me identifiquei completamente, com os sintomas descritos, passei a entender melhor, o que acontecia comigo.  Um dia, conversando com meu marido, pedi a ele que fizesse o mesmo, pesquisasse sobre a doença, sobre como conviver com quem passa por isso, achei que, assim, ele não só passaria a me entender melhor, como pararia de me culpar.  Foi o que realmente aconteceu e a convivência melhorou muito.

Embora não sentisse mais aquela angústia, aquela dor na alma, eu continuava uma pessoa difícil de conviver, a rejeição aos outros, a ira contra tudo e todos, só aumentavam.  Na verdade, eu adotei uma identidade,  a que não gostava de gente, não gostava de sol, não gostava de se divertir.  Vesti uma espécie de capa protetora, que me isolava a cada dia, me tornando uma pessoa amarga.

Ainda assim, consegui uma realização que me deu novo ânimo.  Depois de muito tempo, resolvi me pesar e constatei o que já temia, havia alcançado 100 kgs.  Nesse momento, disse para mim mesma: chega! Não quero mais ser gorda, a partir de hoje, o ponteiro da balança só vai andar para baixo.