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A recaída

O estado de vida havia melhorado, mas a pessoa não.  Eu desejava, ardentemente, ser mais dócil, mais sociável, mas não conseguia, era mais forte que eu.  Tudo me irritava.  Acreditei que a terapia, que fiz por 3 anos, iria colocar tudo no lugar.  Não aconteceu.

Minhas consultas psiquiátricas foram se espaçando.  Devido à minha melhora, estava aguardando o momento, em que também os medicamentos fossem diminuir, mais pelo lado econômico, visto que a situação começava a ficar difícil.

Até o dia em que fizemos as contas e constatamos que estávamos falidos, literalmente.  Não tinha mais como manter aquela despesa toda e, afinal, eu já estava boa!  Com esse pensamento, da noite para o dia, parei com tudo, de uma vez.

A dificuldade financeira deu uma guinada na nossa vida.  Parei com todo o tratamento, mudei de cidade, cortamos muitas despesas e fomos nós, para um novo capítulo.

No meio a tudo isso, eu continuava bem, sem angústias ou medos, até que, uma noite, acordei por volta das 4 da manhã e não consegui mais dormir, não dei muita importância.  Na noite seguinte, a mesma coisa, e depois e depois e depois.  Parei de  tentar dormir, era pior, ficava como um zumbi pela casa, no computador, qualquer coisa que passasse o tempo. 

Voltei a ter episódios de tristeza, a chorar sem motivo, até retornar ao meu ponto de origem, o túnel sem luz no final.  No fundo, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer, só não imaginava, que seria de uma só vez.  Achava que não seria mais como havia sido anteriormente.  Mas foi.

E vamos nós, outra vez, atrás de psiquiatra.  Tive sorte, busquei ao acaso e encontrei uma pessoa maravilhosa.  Me entendeu, pediu para conversar a sós com meu marido, se preocupou comigo, realmente, fazendo com que me sentisse amparada. 

Voltaram os remédios, e, mais uma vez, a melhora demorou.  A tristeza gostava de mim, as lágrimas também.  O pior, era o despertar de manhã.  Conto nos dedos as vezes em que acordei bem, em paz, feliz.  Voltei a engordar.  Era como se estivesse revivendo o passado, mudou o cenário, mudaram alguns personagens, mas a trama era a mesma.

Como a trama era a mesma, mais uma vez me empenhei em emagrecer, visto que já havia ganho 10 kgs.  Eu e meu marido nos matriculamos na academia e voltei ao meu processo de fechar a boca, contar calorias e correr.  Em poucos meses, os 10 kgs foram embora, o que me fez imaginar, que, apesar de ser uma coisa tão difícil, para a maioria das pessoas, para mim, aparentemente, era fácil, bastava querer.


Bastava querer...  ou seja, eu assumi a responsabilidade pelo meu ganho e perda de peso, afinal, eu engordava por minha própria culpa, ninguém comia por mim, era tudo eu.  Por duas vezes, quando eu disse a mim mesma, chega de ser gorda, eu consegui!  E se eu dissesse, chega de sofrer?  O que será que eu poderia conseguir?